A chuva brindou-nos no segundo dia em Amesterdão. Na verdade não foi só a chuva, foi também o vento e o frio. O dia começou cedo, como começam todos quando andamos em viagem a conhecer e a descobrir. A cidade pela manhã é pouco frequentada, é difícil achar um sítio para tomar o pequeno almoço (sentado, sem ser uma lojinha de rua com um balcão e uma mesa alta). Em tão poucos dias pensei várias vezes “se estes holandeses apanhassem aqui uma pastelaria como as nossas, com montras de bolos, até lhe chamavam um figo!”
Oito e pouco da manhã e as bicicletas já circulam, poucas, é certo, mas sempre com aquele ar de quem vai cheio de pressa.
Na nossa caminhada matinal a caminho do primeiro local de visita do dia passámos pela Westerkerk, uma igreja protestante onde estão os restos mortais do pintor Rembrandt, que fica no bairro de Jordaan, o bairro que está mais na moda em Amesterdão. Fica mesmo ao lado da casa de Anne Frank, à beira do canal do Príncipe (Prinsegracht), o canal que tem algumas das mais belas casas barco de toda a cidade.
A Casa da Anne Frank não era muito longe da nossa casa e foi por aí que começámos as visitas do dia. Apesar do que li na Internet a aconselhar a visita cedo pela manhã para não apanhar filas intermináveis, levámos com 2 horas de espera na fila, 2 horas ao vento, à chuva e ao frio. Tentámos, uma semana antes de partir para Amesterdão, comprar bilhetes online mas já não havia para os dias em que podíamos ir.
Toda a gente que se preze já leu o famosíssimo e terrivelmente verídico “Diário de Anne Frank”. Localizada ao lado da Westerkerk, a Casa de Anne Frank é um ponto de visita obrigatória em Amesterdão. Foi efectivamente naquela casa que viveu a jovem Anne Frank e a sua família escondidos numa época em que os judeus foram perseguidos nos Países Baixos. A fila para visitar a Casa estende-se pela rua, faça chuva, vento ou sol, todos querem visitar a casa onde Anne e a família se esconderam durante dois anos, até serem denunciados e levados para os Campos de Concentração.
É difícil descrever o que se sente ao entrar num cenário que foi real, imaginar todas as situações que a família ali viveu e recordar muitas passagens do Diário que, mesmo tendo passado tantos anos desde a sua leitura, ainda continua bastante presente. É marcante entrar ali, subir as escadas, ver os quartos, a cozinha, imaginar a família ali e a angústia e a ansiedade que sentiam por estarem escondidos, sem na verdade terem qualquer culpa, apenas por serem judeus.
A visita deve ter demorado pouco mais de uma hora mas saímos calados, sensibilizados e a digerir o que vimos e ouvimos.
Seguimos a pé e sempre à chuva pelo canal do Príncipe, o canal que tem as casas-barco mais bonitas da cidade. Continuámos, sempre a pé, e encontrámos, por acaso, um mercado de rua que pensamos ser o Noordermarkt, cheio de coisas que apetece provar e outras tantas (velharias e afins) que apetece levar para casa, com uma atmosfera descontraída e acolhedora.
Continuámos a deambular pela cidade e encontrámos outro mercado, que não sei identificar, mas nessa rua existia uma Pizzaria (Capri) que nos vendeu um belo de um repasto mesmo na rua desse mercado, na esquina da NorderKerk Straat.
À tarde, mesmo com alguns pingos de chuva, optámos por fazer uma viagem de barco pelos canais, para ver a cidade de uma outra perspectiva. A viagem custou 16€ por adulto e durou cerca de 75 minutos. O barco era coberto, foi o que nos valeu, porque a chuva teimava em não dar tréguas.
Em cima o Centro de Ciência NEMO.
Em cima o edifício da Nationale Opera & Ballet.
Amesterdão é claramente uma cidade de pontes.
O dia manteve-se cinzento mas isso não nos demoveu, armados de chapéus de chuva continuámos a visita à cidade. Havia festa na Praça Dam, talvez por ser o fim de semana da maior festa da cidade, a festa do Rei. A fome apertou e nada melhor que experimentar a comida de rua na Praça Dam. Abaixo, o grelhador mais espectacular que já vi, comida sempre quentinha e saborosa. Quem disse que temos de comer comida saudável nas férias? Uma vez não são vezes… Ainda nos demorámos a ver os carroceis da Praça, alguns deles capazes de fazer saltar o estômago pela boca às pessoas. Pelo sim, pelo não, mantivemos uma certa distância de segurança.
Abaixo a Igreja Velha, que fica mesmo no meio do Red Light Disctrict. Caricato, não é?
The Bulldog, um dos coffeeshops mais conhecidos da cidade.
Foi um dia com muitos quilómetros nas pernas, muitas horas em pé, muita informação para absorver e um misto de sensações: seria capaz de viver nesta cidade ou não?