Quando decidi que Cabo Verde seria o destino das férias, não me quis ficar apenas por uma ilha. Além da ilha do Sal, achei que era uma mais valia visitar Santiago, a maior e a ilha mais africana de todas onde está a capital administrativa do arquipélago.
Nos seus 75km por 35km, Santiago esconde uma paisagem mais verde, com montanhas escarpadas e vales verdejantes com fragmentos de história que nos transportam aos anos do colonialismo.
Aterrámos cedo no Aeroporto Nelson Mandela, aí já nos esperava o transfer para a cidade da Praia, a capital da ilha, para o Hotel Oasis Praiamar. A estrada que hoje faz a ligação da cidade ao aeroporto já foi, em tempos, a própria pista do aeroporto, hoje em dia aumentado.
Na cidade da Praia, uma cidade muito movimentada com o típico trânsito africano, há alguns pontos de interesse como a Cidade Velha, onde não chegámos a ir. A Cidade Velha foi o lugar onde os portugueses chegaram quando descobriram Cabo Verde e que é hoje Património Mundial. O mercado de Sucupira fica na Avenida Cidade de Lisboa e é de visita obrigatória para quem gosta de regatear.
Na cidade da Praia na praça Alexandre Albuquerque existem ainda muitas casas com aspecto colonial que comprovam a existência dos colonos portugueses em tempos que já lá vão.
Ilhéu de Santa Maria, casa em ruínas para onde mandavam os leprosos
Na cidade da Praia pode-se dar um mergulho na Praia de Quebra Canela, Prainha, Mulher Branca ou Gamboa.
A volta à ilha era inevitável, nós e um casal angolano passámos um dia numa carrinha com um guia que já tinha estado muitas vezes em Portugal e que nos mostrou tudo o que conseguiu nesta ilha.
O ponto mais alto da ilha de Santiago é o Pico da Antónia e tem1394 metros de altura. Relativamente à vegetação existe em grande quantidade a acácia americana que dá vagens para os animais e madeira para lenha. Cultiva-se bastante milho e feijão, como foi um ano de muita chuva (a chuva vem entre Julho e Outubro), o milho está bom.
As estradas no interior da ilha não são muito movimentadas mas algumas estão em mau estado, há muitas curvas e subidas e descidas, pelo que é preciso cuidado a conduzir pela ilha.
Estátua de Amilcar Cabral
No sopé da elevação mais alta de Santiago, o Pico da Antónia, fica o Jardim Botânico, o único do arquipélago, onde existem muitas calabaceiras que dão um fruto que faz um bom sumo para o colestrol.
Visitámos a cidade da Assomada,onde tivémos oportunidade de ir ao mercado municipal, um mercado de legumes e frutas.
Chegámos ao Tarrafal a tempo de mergulhar nas águas daquela praia que ainda é um segredo bem guardado dos turistas.
A cachupa, prato típico feito com milho, feijão, legumes e carnes, fez as delícias do nosso almoço, num pequeno restaurante com vista para a praia.
Depois de almoço foi tempo de visitar o antigo Campo de Concentração do Tarrafal, o “Campo da Morte Lenta”, e de nos envergonharmos da nossa história e do que ali fizémos.
O Campo de Concentração do Tarrafal situado em Chão Bom foi criada pelo Governo português no Estado Novo com o intuito de enviar para lá os presos políticos. Em 1936 seguiam para o Campo os primeiros presos políticos que incluiam alguns dos participantes do 18 de Janeiro de 1936 na Marinha Grande e marinheiros da Revolta dos Marinheiros ocorrida a 8 de Setembro de 1936.
Em 1954 o Campo foi encerrado mas voltou a reabrir em 1961 para receber prisioneiros das colónias portuguesas. Entre outras torturas destacavam-se a Frigideira ou a Tortura do Sono e da Fome. Trinta e dois portugueses, dois angolanos, dois guineenses perderam ali a vida. Outros morreram já depois da sua libertação em consequência do que ali passaram.
Hoje em dia está convertido num museu para que nunca nos esqueçamos das atrocidades que ali se cometeram e de quem ali sofreu na pele o regime fascista.
Esmeraldo da Silva Prates, mais conhecido por Tralheira, foi o médico que chegou ao Tarrafal, segundo ele próprio, não para curar mas sim para assinar certidões de óbito.
No caminho de regresso à cidade da Praia passámos por enseadas bonitas, aldeias perdiidas e vimos muitas pessoas a ver o tempo passar sentadas às portas das casas, casas sem janelas, com aspecto inacabado.
Na cidade da Praia há uma grande cruz, a cruz onde o Papa João Paulo II celebrou a missa quando veio a Cabo Verde.
Hotel Oasis Praiamar